26 fevereiro, 2014

Casamento: Modo de usar



Case-se com alguém que adore te escutar contando algo banal como o preço abusivo dos tomates, ou que entenda quando você precisar filosofar sobre os desamores de Nietzsche.
Case-se com alguém que você também adore ouvir. É fácil reconhecer uma voz com quem se deve casar; ela te tranquiliza e ao mesmo tempo te deixa eufórico como em sua infância, quando se ouvia o som do portão abrindo, dos pais finalmente chegando. Observe se não há desespero ou insegurança no silêncio mútuo, assim sendo, case-se.
Se aquela pessoa não te faz rir, também não serve para casar. Vai chegar a hora em que tudo o que vocês poderão fazer, é rir de si mesmos. E não há nada mais cruel do que estar em apuros com alguém sem espontaneidade, sem vida nos olhos.
Case-se com alguém cheio de defeitos, irritante que seja, mas desconfie dos perfeitinhos que não se despenteiam. Fuja de quem conta pequenas mentiras durante o dia. Observe o caráter, antes de perceber as caspas.
Case-se com alguém por quem tenha tesão. Principalmente tesão de vida. Alguém que não lhe peça para melhorar, que não o critique gratuitamente, alguém que simplesmente seja tão gracioso e admirável que impregne em você a vontade de ser melhor e maior, para si mesmo.
Para se casar, bastam pequenas habilidades. Certifique-se de que um dos dois sabe cumpri-las. É preciso ter quem troque lâmpadas e quem siga uma receita sem atear fogo na cozinha; é preciso ter alguém que saiba fazer massagem nos pés e alguém que saiba escolher verduras no mercado. E assim segue-se: um faz bolinho de chuva, o outro escolhe bons filmes; um pendura o quadro e o outro cuida para que não fique torto. Tem aquele que escolhe os presentes para as festas de criança e aquele que sabe furar uma parede, e só a parede por ora. Essa é uma das grandes graças da coisa toda, ter uma boa equipe de dois.
Passamos tanto tempo observando se nos encaixamos na cama, se sentimos estalinhos no beijo, se nossos signos se complementam no zodíaco, que deixamos de prestar atenção no que realmente importa; os valores. Essa palavra antiga e, hoje assustadora, nunca deveria sair de moda.
Os lábios se buscam, os corpos encontram espaços, mas quando duas pessoas olham em direções diferentes, simplesmente não podem caminhar juntas. É duro, mas é a verdade. Sabendo que caminho quer trilhar, relaxe! A pessoa certa para casar certamente já o anda trilhando. Como reconhecê-la? Vocês estarão rindo. Rindo-se. 
Curta Mais seu amor.

Diego Engenho Novo

15 fevereiro, 2014

Último Romance



Ah, vai
Me diz o que é o sufoco
Que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia
Eu levo essa casa numa sacola



Ah, vai
Me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona
Pra te acompanhar

Los Hermanos

Cartola e suas doloridas considerações

07 dezembro, 2013

Ana e o Mar



...Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar...



25 novembro, 2013

Sobre o estado de graça



Alguns estados de graça são frutos da inocência. Não sabermos de algo e estarmos no meio de um fato inusitado, inesperado, uma coincidência, um milagre. Um encontro ao acaso é sempre milagroso, porque se opera por razões alheias à vontade. Concorrer para situações únicas é estar disponível para a surpresa. Falar com alguém sem saber que é justamente a pessoa que está procurando. Encontrar um livro sem saber que lhe trará a informação de que precisa. Os estados de graça acontecem por estarmos fora da realidade imediata, em contato com as respostas que pairam acima de nossa cabeça. Então ouvimos. Então sabemos. Então aprendemos. Então seremos testemunhas únicas de fatos que só aconteceram para nós. Essa unicidade é o todo. É a mágica que faz cada um ser um e ao mesmo tempo todos. 





Thereza Rocque da Motta

24 novembro, 2013

Pelo direito a gentileza


Deixe que eu seja gentil. Deixe que puxe a cadeira, espere um pouco, minhas mãos estão chegando ao espaldar, deixe que abra a porta, me dê tempo, minhas mãos estão pousando na maçaneta. Deixe que eu seja gentil, que eu me antecipe a seus incômodos, que procure facilitar suas palavras, que ajude a expressar sua vontade, que concorde com seu silêncio. Deixe que eu seja gentil, meu amor. Minha gentileza não é ditadura, minha gentileza não é imposição. 
Não desejo mandar em você, e sim mostro que não há meu medo de ser dominado. 
Deixe que eu dê colo, faça cafuné, massagem nos pés, me mantenha acordado até que durma. 
Deixe que eu seja gentil, que tenha a capacidade de adivinhar quando se emocionou ou não, que responda a ataques e indelicadezas. Sei que pode se defender sozinha. Não estou lhe chamando de frágil. 
Deixe que eu seja gentil, que aceite meu casaco nos ombros no fim da noite, que aceite meu elogio no início do dia. 
Deixe que seja gentil, que eu cozinhe seu prato predileto, que arrume a cama, lave a louça e que você não tema a mesura, não pense em conspiração. 
Gentileza não é favor. Gentileza não guarda recibo. 
Não peço nada em troca, não protesto recompensa. A gentileza é de graça. A gentileza não tem caminho de volta. 
Deixe que eu seja gentil, que pague a conta do restaurante, adquira um vestido. Não estou lhe corrompendo, não estou lhe comprando. 
Gentileza não é suborno, gentileza não é chantagem. Não me culpe por ser gentil. Não me entenda errado. Não pretendo controlá-la, logo eu que mal me domino. Deixe que seja gentil, mimar não é estragar, a grosseria é que destrói. 
Deixe que eu seja gentil. Que eu possa tirar seus sapatos e guardá-los nas gavetas. Não é machismo, amor, não é machismo cuidar de você. Sei que se vira sozinha desde a adolescência, que não precisa de ninguém, nem de meus olhos assustado por um sim. 
Mas deixe que eu seja gentil. Que eu possa acompanhá-la até o toalete durante a festa, que possa aguardá-la na saída. Gentileza é se preocupar antes de qualquer problema. 
Deixe que eu seja gentil, deixe que seja sua sombra mais frondosa. Respeitar é jamais esquecer que você está ao meu lado. Sou gentil por saudade antecipada. 
Deixe que eu pegue mais coberta, que feche a janela, que atenda o interfone e telefone. 
Deixe ser sua audição mais apurada: a luz se acende inclusive para os ouvidos. 
Não elimine o que recebi de meus pais. A paciência das pequenas urgências. 
Deixe que eu seja gentil, não ofereço porque pedia, não irei cobrar. 
Gentileza é escolha, gentileza é destino. 
Deixe que eu seja gentil, vou perguntar muitas vezes ao dia como está, não canse de me responder. 
Deixe que eu seja gentil, que eu segure seu guarda-chuva, que eu busque um copo de água de madrugada, que eu dobre suas roupas e lembre qual o momento de acordar. Não apague minha educação. Não estou dizendo que você é inútil, só quero ser gentil. 
Não estou dizendo que depende de mim, amor, que não valorizo sua liberdade. 
Deixe eu ser também você. 


Fabricio Carpinejar, seu lindo!

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