18 janeiro, 2011

Branquinha!


Depois de dois anos é que confessou que gostava de Fafá de Belém. Pensou que eu não aguentaria. Você tem dessas. Acha que não será amada como se amou. Acha que pode resolver tudo sozinha. Já ouvi gritando num desentendimento: "Não tem problema, cuido de mim, tô acostumada". Se fico preocupado, diz que é uma forma de culpá-la. Não deseja incomodar. Odeia depender do amor de um homem, que é muito pior do que depender de um homem. Odeia me amar porque contrario tudo o que esperava da independência de um casal. Talvez se perceba abençoada por uma maldição. Eu me assusto sempre, você que não prevê. Susto de ternura. A ternura me excita. Adoro quando come e transforma todo alimento em molho dos outros. Adoro quando escolhe uma calça e põe a pilha delas no chão, para não esquecer qual usou. Adoro que chama seus melhores amigos de amado/amada e seus pacientes de flor. É uma floricultura ao telefone. Adoro quando me dá uma série de beijinhos pelo rosto, como se me banhasse de sopro. Adoro que deixa as portas abertas do armário da cozinha para me lembrar do que falta comprar no mercado. Adoro que adormece de repente e acorde, elétrica, procurando recuperar a excitação noturna. Adoro que pode dirigir a cidade inteira de ré, segurando minha mão: seu retrovisor. O que também não confessei é que gosto de Fafá de Belém.



Publicado na Revista Cláudia
Dezembro 2010, P. 116
Nº. 12, Ano 49

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