30 junho, 2011



"Quando penso que escapei de minha timidez, há um gesto inesperado que me faz corar e regressar, rendido, para a ausência de lugar. O corpo não é um esconderijo seguro."



Fabrício Carpinejar

Das coisas que eu (não) gosto


Não gosto de café morno, de conversa mole, 

nem de noite sem estrela.







Fernanda Mello

29 junho, 2011

Meus primeiros selinhos

Gente o Blog ganhou seus primeiros selinhos da querida Ana Martins do Pequenas Epifanias. Um orgulho para mim pois a Ana tem um olhar diferenciado que admiro muito. Além de ser Geminiana como eu =))






Beijo meu, Ana









O selo tem uma regrinha: repassa-lo para os blogs favoritos.

José



A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?


Stand By Me

28 junho, 2011

Suspicious Minds

Eliana Printes - Nosso Amor

Janta

Coração?

Era coração, 
aquele escondido pedaço de ser 
onde fica guardado o que se sente
e o que se pensa sobre as pessoas das quais se gosta? 


Devia ser.




. Caio Fernando Abreu .

É como morrer

É mais fácil ficar sozinho.
Porque, e se você descobrir que precisa de amor,
E depois não o tiver?
E se você gostar e depender dele?
E se você modelar sua vida toda em volta dele…
Para então ele acabar?
Você consegue sobreviver a tamanha dor?
Perder amor é como perder um órgão,
É como morrer.
A única diferença é que a morte acaba.
Isto, pode durar para sempre…




Último episódio da 7ª temporada
Grey’s Anatomy

Um jeito de prece



Com gentileza, abrando os meus ruídos. Diminuo o volume da tagarelice exaustiva dos pensamentos. Permito que a minha respiração se acalme até ficar macia. Sinto o meu coração com o contentamento de quem reencontra um amigo muito querido. Começo a visualizar um lugar bem bonito. Desenho nele árvores e plantas, utilizando diferentes combinações de cores e tamanhos para suas folhas, flores e frutos. Desenho rios, lagos, cachoeiras, e também montanhas e pedras de vários tons e formatos. Pinto o céu com o azul mais vivo que pulsa na minha memória e solto nele pássaros das mais variadas espécies.

(...)Retiro de uma caixa cheia de delicadezas o pote que contém a mistura dos sons e perfumes que se harmonizam, em freqüência, com o que eu já criei. Abro a tampa do pote, jogo essa mistura mágica no ar e acendo tudo com os acordes e o cheiro da paz.

(...)Antes de ir embora, olho mais uma vez para esse lugar que criei, para onde posso retornar sempre que quiser. Para descansar dos desafios cotidianos. Para me perfumar com essa paz. Para me banhar com essa luz. Podemos escolher o que queremos criar. Onde demoramos mais os nossos olhos. Com o que alimentamos o nosso coração. O que propagamos sutilmente no mundo.

Ver, com amor, também é um jeito de prece.


Ana Jácomo

27 junho, 2011

Welcome To Wherever You Are




“Margarida a Violeta conhecia,

uma era cega a outra bem louca vivia,

a cega entendia o que a louca dizia

e acabou vendo o que ninguém mais via!”






Clarice Lispector

"Descobri que sou inteiramente louca.
Louca de pedra. De pau. De ferro.
De aço. De louça. E quebro à toa."













Maria Carmem Barbosa

Apenas me abrace


Sou apaixonada por abraços.
 





Não resisto a segurança de abraços fortes, sinceros que me envolvem e sinto como se um choque de esperança me fizesse ver as coisas de outra maneira. Então, poupe-se de procurar palavras pra me agradar, de algo que me faça sorrir e me sentir melhor (…) 




Apenas me abrace, e me segure bem forte !




Caio Fernando Abreu

Need You Now







"Eu já pensei seriamente nisso,
mas nunca me levei realmente a sério.
É que tem mais chão nos meus olhos
do que cansaço nas minhas pernas,
mais esperança nos meus passos
do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração
do que medo na minha cabeça.'







Cora coralina



A cor do tempo



"Há uma cor que não vem nos dicionários.
É essa indefinível cor que têm todos os retratos,
os figurinos da última estação, a voz das velhas damas,
os primeiros sapatos, certas tabuletas,
certas ruazinhas laterais : a cor do tempo …''



Mario Quintana

26 junho, 2011

Adele - Rolling In The Deep




"Nem somos duas pessoas. Muito antes de nos conhecermos éramos só duas metades andando por ai com grandes espaços vazios no formato da outra pessoa. E quando nos encontramos finalmente nos completamos. Mas foi como se não suportássemos sermos felizes e então, nós nos dividimos ao meio outra vez."





Sylvia Plath 


"No palco, 
na praça, 
no circo, 
num banco de jardim, 
correndo no escuro, 
pichado no muro... 
Você vai saber de mim."




Chico Buarque


"Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois..."









Cazuza


"Vivo no não-lugar. 
Onde cada quase toca o nunca. 
E sempre é muito longe."


Fabio Rocha



"Que importa a nuvem no horizonte,

chuva de amanhã?






Hoje o sol inunda o meu dia."









Helena Kolody



Identificazzione di una donna

Ilustração Jana Magalhães


"Nós tínhamos uma coisa que chamo de 'identificazzione di una donna'. Era uma aproximação de alma que rolava comigo, com você (...) pessoas sensíveis, que têm uma alma parecida. As coisas que a gente escolhia para enxergar nesse mundo eram parecidas. Apontávamos para os mesmos lugares (...)"





(Bruna Lombardi)
Ilustração Jana Magalhães





"Deveríamos ter à mão,
nos bolsos ou na bolsa,
muitos tabletes de "sins".
Não só para sair 

distribuindo por aí, 
como balas para crianças,
mas pra chupar como pastilha,
remedinho homeopático,
doce e inofensivo."







Cris Guerra







O tempo...




"Não adianta correr nem se debater, 
pois o tempo come as beiradas da gente, 
corta e recorta e rói, cobre e recobre, 
e nos encerra em seu oval perfeito – 
e como os mortos, hibernamos."



(Lya Luft)

25 junho, 2011

Apenas mais uma de amor - Lulu Santos

A beleza e suas fragilidades




Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.



Caio F. A morte dos girassóis, in: Pequenas Epifanias


De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.



Caio Fernando Abreu

Dois ou três almoços, uns silêncios (fragmento)




Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração.


Caio Fernando Abreu
(Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)

Manha

De vez em quando, 
surge um vento mais forte e fecha as janelas pelo lado de fora.
Quando acontece, é bobagem tentar brigar com o vento.
A gente espera ele esvaziar e reabre as janelas pelo lado de dentro.





Ana Jácomo


O Que Eu Quero? Não quero muito
Apenas um banco de praça
Onde eu possa sentar,
Pensar e,
Escrever uma poesia.


Keidy Lee Jones


No inverno, 


todo abraço é um cachecol.






Fabrício Carpinejar

Roda viva



Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

Roda Viva
Chico Buarque

24 junho, 2011

O que há em mim

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…


Álvaro de Campos

21 junho, 2011

Ele chegou



O Rio não combina muito (nada) com inverno, mas como não tem muito jeito, ele sempre chega, o negócio é curti-lo da melhor forma possível. Lembrando que essas guloseimas serão sempre bem vindas combinadas com exercícios físicos (ai que preguiça)...a estação acaba e o estrago fica.

Desejo um inverno feliz e delicioso para todos 





"Tens de acreditar que os ventos soprarão
Crer na grama nos dias de neve
Ah, é por esta razão que o pássaro pode cantar:
Em seu dias mais escuro, 
acredita na primavera"






(Douglas Malloch).

20 junho, 2011

Os excluídos



Ao contrário do que o título desta crônica possa sugerir, não vou falar sobre aqueles que vivem à margem da sociedade, sem trabalho, sem estudo e sem comida. Quero fazer uma homenagem aos excluídos emocionais, os que vivem sem alguém para dar as mãos no cinema, os que vivem sem alguém para telefonar no final do dia, os que vivem sem alguém com quem enroscar os pés embaixo do cobertor. São igualmente famintos, carentes de um toque no cabelo, de um olhar admirado, de um beijo longo, sem pressa pra acabar.

A maioria deles são solteiros, os sem-namorado. Os que não têm com quem dividir a conta, não têm com quem dividir os problemas, com quem viajar no final de semana. É impossível ser feliz sozinho? Não, é muito possível, se isso é um desejo genuíno, uma vontade real, uma escolha. Mas se é uma fatalidade ao avesso - o amor esqueceu de acontecer - aí não tem jeito: faz falta um ombro, faz falta um corpo.

E há aqueles que têm amante, marido, esposa, rolo, caso, ficante, namorado, e ainda assim é um excluído. Porque já ultrapassou a fronteira da excitação inicial, entrou pra zona de rebaixamento, onde todos os dias são iguais, todos os abraços, banais, todas as cenas, previsíveis. Não são infelizes e nem se sentem abandonados. Eles possuem um relacionamento constante, alguém para acompanhá-los nas reuniões familiares, alguém para apresentar para o patrão nas festas da empresa. Eles não estão sós, tecnicamente falando. Mas a expulsão do mundo dos apaixonados se deu há muito. Perderam a carteirinha de sócios. Não são mais bem-vindos ao clube.

Como é que se sabe que é um excluído? Vejamos: você passa por um casal que está se beijando na rua - não um beijinho qualquer, mas um beijo indecente como tem que ser, que torna tudo em volta irrelevante - você inclusive. Se lhe bate uma saudade de um tempo que parece ter sido vivido antes de Cristo, se você sente uma fisgada na virilha e tem a impressão que um beijo assim é algo que jamais se repetirá em sua vida, se de certa forma este beijo que você assistiu lhe parece um ato de violência - porque lhe dói - então você está fora de combate, é um excluído.

A boa notícia: você não é um sem trabalho, sem estudo e sem comida - é apenas um sem-paixão. Sua exclusão pode ser temporária, não precisa ser fatal. Menos ponderação, menos acomodação, e olha só você atualizando sua carteirinha. O clube segue de portas abertas.



Martha Medeiros

19 junho, 2011




Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.


Fernando Pessoa, 1913

Quem gostou da Ideia