12 janeiro, 2012

Felicidade. Direito ou dever?



Nenhum dos dois!





“Acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo (o bom humor), pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo …” , afirma Schopenhauer (1788-1860)

Ora, ora, esqueceram-se do que diz Nietzsche (1844-1900), “O que não me destrói me fortalece”?

Vivemos num mundo que valoriza a genialidade, a excelência dos genes. Onde a geração do ‘eu mereço’ deseja as soluções fáceis, e com sua esperteza busca os atalhos para atingir seus objetivos. Há um desprezo visível pelos ‘ordinários’, pelos esforçados, pela honestidade, pela disciplina, pelo tempo gasto e pela dedicação.

É uma geração de fracos, fruto de pais angustiados, que não têm o dever de garantir a felicidade de seus filhos, posto que a felicidade não é um direito do ser humano.

Na vida, não há garantia alguma de que seremos felizes. E eu rio com Garrincha (1933-1983), quando este filosofa, perguntando-se: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil?”.

Afinal, o que é a felicidade? É a constante busca do prazer.

A palavra ”felicidade” em grego significa ‘eudamonia’(‘eu ’= bom e ‘daimonia’ = estado de espírito). É o bom estado de espírito que leva à completude. E a palavra euthymia, que significa a tranquilidade, a alegria, o bom humor, complementa esta ideia.

Os filósofos, eternos amigos da humanidade, tentam tornar viável a busca da felicidade. Como reforça Montaigne (1533-1592), “O ofício da Filosofia, que é a ciência de viver bem, é serenar as tempestades da alma”.

Temos ainda as dicas de Demócrito (460 a.C- 370 a.C): “Ocupe-se de pouco para ser feliz”, e de Epicuro (341 a. C-270 a. C): “A quem pouco não basta, nada basta”. Com certeza, nunca imaginariam estes queridos amigos o quanto são sobrecarregadas as nossas agendas, atropelando os nossos espíritos, trazendo-nos angústia e ansiedade diariamente. Eles ficariam assustadíssimos com a quantidade de coisas desnecessárias que fazemos.

Caríssimos, evitemos gestos e pensamentos inúteis. Lembrem-se de que a mente é como um cavalo selvagem. Devemos acalmá-la com pensamentos aquietadores, já aconselhava o imperador romano Marco Aurélio (121 d.C -180 d.C). Ou seja, “é preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens”, ratifica Sêneca.

Devemos seguir e “aceitar os tropeços. Até porque são inevitáveis”, não é mesmo Zenão (333 a.C.-264 a.C)? Esta ideia influenciou os estoicos, que defendiam a serenidade diante do revés ou do triunfo. O que dentro da lógica da resignação, tornou-se um dos pilares do cristianismo.

Ora, ora, “para que tantos planos em vida tão curta?”, lembra Horácio (65 a.C.- 8 a. C). Afinal, não se preocupar com o que vem pela frente é ‘uma das maiores marcas da sabedoria’, complementa Epicuro.

“Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”, segundo Epíteto (55 d.C.-135 d.C.), porque “é mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”, ressalta Descartes (1596-1650).

Não ponha nos outros, nem em nada, a sua felicidade. Isso é fundamental para a vida feliz, pois “é digno de piedade quem depende dos outros”, afirma Montaigne, pois “todas as minhas esperanças estão em mim”, completa Horácio.

“Acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo (o bom humor), pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo. Nada pode substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto essa qualidade, enquanto ela mesma não é substituível por nada”, afirma Schopenhauer (1788-1860).

“Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade. A rabugice e o amargor são deploráveis em qualquer idade”, verifica Cícero (106 a.C - 43 a.C).

Atenção para mais um conselho do famoso imperador Marco Aurélio: “Previna a si mesmo ao amanhecer: vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insolente, um astucioso, um invejoso, um avaro”, pois não sabemos o que nos acontecerá adiante, e “teimar e contestar obstinadamente são defeitos peculiares às almas vulgares. Ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar uma opinião errada no ardor da discussão são qualidades raras das almas fortes e dos espíritos filosóficos”, corrobora Montaigne.

A felicidade está em viver a vida em seu tempo. “Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais, que devemos apreciar cada uma em seu tempo”, não é mesmo, caro Cícero?

Afinal, lembro-me agora de um provérbio judeu que diz, “não há nada mais alegre e especial do que as coisas acontecendo a seu tempo!”.

Ser feliz é crescer e ser melhor do que antes. Superar-se. Ainda que crescer seja compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor, pelo contrário, a engrandece porque depende de nossa participação para ter sentido.



Samanta Obadia

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